A chuva dispersa
orvalho da madrugada
beleza selvagem
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No resto do dia
despojos do sol
solitário
cansado de brilhar
emprestam seu reflexo
para um sorriso
de lua
escancarada no céu
como um lustre suspenso
esperando um uivo
qualquer
.
Solange Firmino
(No meu livro: “Fragmentos da insônia”)
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Espero-te antes de haver vida
e és tu quem faz nascer os dias.
Quando chegas
já não sou senão saudade
e as flores
tombam-me dos braços
para dar cor ao chão em que te ergues.
Perdido o lugar
em que te aguardo,
só me resta água no lábio
para aplacar a tua sede.
Envelhecida a palavra,
tomo a lua por minha boca
e a noite, já sem voz
se vai despindo em ti.
O teu vestido tomba
e é uma nuvem.
O teu corpo se deita no meu,
um rio se vai aguando até ser mar.
– em “Idades cidades divindades”. Lisboa: Editorial Caminho, 2007.
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Não sei se amo mais o marujo, o vento
ou a maré que traz a desordem da espuma.
O cais inabitado é uma metáfora a decifrar
o silêncio do inverno.
.
Os BARCOS velhos ancorados, as velas rotas recolhidas
fazem pensar que só buscavam um porto de abrigo.
Até as aves marinhas alteram seus rumos.
.
Adio para amanhã mais uma tormenta.
Ao entardecer, percorro a orla da praia.
Espero a lua se acender no mar.
Só os uivos comovidos dos cães
me fazem companhia agora.
.
Solange Firmino
(No meu livro: “Das estações”)
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Céu de primavera
há uma brisa que regressa
uma nova flor
Solange Firmino
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Estou presa aos abismos,
exaurida na vertigem dos dias.
Tenho fascínio pelas alturas,
mesmo que sejam invertidas.
Esses degraus perversos
levam-me às noites insones
e nítidas.
Mas é outono,
vou olhar o poente
e anotar no meu bloco
os versos que me lembrem
dos amarelos de Van Gogh
que explodem em girassóis.
Solange Firmino
(No meu livro “Geometria do abismo”)
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O outono chegou me trazendo bons frutos.
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🌸🙏🌱💦
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Meu poema ficou entre os três melhores no II Concurso ALAP “Paranavaí Literária”.
Os poemas temáticos escolhidos pela Academia nesta segunda edição versaram sobre o idoso e a arte de envelhecer.
A entrega da premiação ocorrerá no dia 31 de outubro de 2017, durante evento comemorativo do Dia Nacional da Poesia (instituído pela Lei nº 13.131, de 3 de junho de 2015, em homenagem à data de nascimento de Carlos Drummond de Andrade).
Inexorável
Na véspera de minha morte, naufraguei nas abissais ondas do Letes.
Subornei oráculos para saber meu fim, mas os vates discretos resistiram,
assediaram-me com seu séquito de sacerdotisas sensuais.
Eles sabiam da minha fadiga e trouxeram asas, como as de Ícaro.
Foi assim que caí feliz no abismo.
Até gostei do espaço entre o chão e a queda…
Com o tempo, o espelho me envelheceu.
Nele me vi, e vi inteiros
os versos atirados nos lagos mansos dos olhos,
isentos de eternidade,
mas cheios de memórias e descaminhos.
Abri os lábios e saíram palavras indecifráveis
em busca de abraços e gestos sem punhaladas.
Como dizer-me que os espelhos também deformam?
Eles não refletiram quem eu sou,
Só vi o rosto antigo de criança-adulta, esculpido no reflexo.
Nunca foi a parte inteira e etérea do infinito materializado.
Eu e meu nome, somos mais que álbuns, recortes, paisagens,
pedaços de percursos, calendários,
gestos e cores nas fotografias
e nos passos idos.
Faço uma reza.
Envelhecer é simples,
mas ainda tenho uma canção de ninar
nessa tarde de abril, de quentura insuportável.
Ignoro a morte que se esquiva
exilada nas sombras, extenuada das lonjuras da idade.
Ela tem uma sede envelhecida.
Solange Firmino
Vocabulário
Letes – Rio do Hades. Quem bebesse de suas águas esquecia das vidas passadas.
Oráculo – Divindade consultada, intermediário humano, ou ainda o lugar sagrado que transmite a resposta.
Vates – profetas, videntes.
Séquito – Conjunto de pessoas.
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O “Outubro Rosa” tem como objetivo fortalecer as recomendações para o diagnóstico precoce e rastreamento de câncer de mama indicados pelo Ministério da Saúde.
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